É sabido que, teoricamente, Angola é um país democrático e de direito mas, na prática, as acções do regime demonstram um país autocrático, onde o partido governante perdeu a vergonha de expor a promiscuidade entre as acções político-partidárias e as da Nação.
Por Pedrowski Teca
Em Angola, supostamente um Estado Laico, são enjoativas as demonstrações de afecto, expressas publicamente, do casamento promíscuo entre a política e a religião, onde líderes religiosos bajulam a camada governativa, sobretudo Sua Excelência, o presidente da República, José Eduardo dos Santos.
O mesmo acontece no desporto, onde o esforço da conquista de vários títulos é atribuído à “grande visão estratégica do presidente da República”.
No dia 5 de Novembro, quando o clube desportivo 1.º de Agosto se consagrou vencedor do campeonato nacional de futebol, o Girabola 2016, embora tenha perdido por uma bola a zero diante do Atlético Petróleos de Luanda, a grande surpresa dos espectadores foi a entrega da taça à equipa vencedora pelo vice-presidente do partido no poder em Angola (MPLA), o general João Lourenço.
Actualmente, o general João Lourenço também acumula o cargo de ministro da Defesa, mas as questões suscitadas por vários adeptos estavam em torno do traje partidário que vestia.
O vice-presidente do MPLA, sendo a figura de destaque no acto principal da final do Girabola 2016, esteve acompanhado pelo presidente da Federação Angolana de Futebol (FAF), o general Pedro Neto, e o governador de Luanda, o general Higino Carneiro. Sim, todos generais!
Sendo o Girabola um campeonato nacional, automaticamente torna-se um evento apartidário, devendo albergar angolanos de todos os partidos políticos e não só.
Mas a realidade demonstrou que a ocasião era do MPLA, pois até o governador de Luanda, o general Higino Carneiro, compareceu no local vestido de trajes do partido MPLA, estando indiscutivelmente nas vestes de um outro cargo que ostenta, a de primeiro secretário provincial do partido MPLA em Luanda.
Essa postura, sob a anuência da Federação Angolana de Futebol liderada pelo general Pedro Neto, foi alvo de justas críticas por parte de cidadãos, principalmente nas redes sociais, e é digna de condenação da Confederação Africana de Futebol (CAF) e sobretudo pela própria FIFA ao nível mundial.
Enfim, com essa normalização da promiscuidade, comemorou-se a final do campeonato nacional de futebol, o Girabola 2016, tendo o 1.º de Agosto como vencedor, mas obviamente com um “graças ao esforço de Sua Excelência, presidente da República, o engenheiro José Eduardo dos Santos”.